José Carreira Matias, meu pai, mais conhecido na Nazaré por Zé da Palacida, nasceu na Nazaré há 92 anos, no dia 12 de Setembro de 1925. Um homem inteligente e trabalhador que lutou sempre para dar mais conforto à família. Nasceu ao pé do mar e, por ele, foi sempre atraído desde muito novo, nunca se afastando dele. Dizia ele que sempre amara o mar e sempre o respeitara.
Aos 8 anos de idade, já ia com o pai Zé da Constança, meu avô, para a pesca das enguias na Lagoa – nas valas dos terrenos de Valado dos Frades. Aos 13 anos de idade, já ia ao mar com o pai, escondido do Cabo de Mar, porque só o podia fazer aos 14 anos. O pai era Mestre de uma Armação de Pesca, chamada Parceria Fraternidade. A atração pelo mar era irresistível!

Zé da Palacida
Casa-se aos 22 anos com Ernestina Vagos Pescadinha, minha mãe (eterna saudade!), e construiu uma bonita família, com filhos, netos e bisnetos que estão aqui reunidos neste dia 31 de Março de 2018 para lhe prestarem uma última, e sentida, homenagem.
Ao longo de uma vida extensa, exerceu muitas atividades, a maioria ligada ao mar, mas não só. Foi pescador no mar de várias artes de pesca, foi pescador à cana, ao corrimão, pescador no rio, às enguias. Foi Apontador e Escriturário na Lota da Nazaré. Foi Conteiro dos barcos de pesca, fazendo o deve e haver das suas pescarias. Foi Comerciante.
Foi um precursor em várias atividades ligadas à pesca. Introduziu o pingalim na Pesca com Corrimão, substituindo assim o isco. Foi um grande pescador à cana – era a referência para muitos nazarenos que pescavam à cana e queriam sempre saber onde é que ele andava a apanhar peixe. A maior pescaria à cana foi feita por ele, mais o Zé António Pé Leve, o Ti António Pé Leve, o meu primo Zé Balau e eu próprio – 220 kg de robalos e arraias. Dizia ele que as suas melhores qualidades eram: a persistência e os conhecimentos que ele trouxe da pesca no mar (pesca embarcada) para a pesca no areal (pesca apeada). Ele sabia onde o peixe estava ou poderia vir a estar. Lia o mar e o céu como ninguém! Aos 80 anos, ainda ele pescava ao Corrimão, já com alguma dificuldade, porque o coração começava a pregar-lhe partidas, o que o levou, mesmo, à sala de operações.
Foi isto tudo, mas foi acima de tudo um bom nazareno e um bom pai, avô e bisavô. Tinha um enorme sentido de humor e uma memória privilegiada que nós utilizávamos constantemente para recordar episódios antigos, abrilhantando os serões familiares. Foi essa grande memória do passado que me permitiu produzir, em livro, a sua biografia – Biografia de Zé da Palacida , publicada há 6 anos e apresentada no Centro Cultural da Nazaré.
Vai deixar muitas saudades à família que era o seu suporte e também a sua preocupação última.
A Nazaré tem tido ao longo dos tempos muitos nazarenos ilustres, uns ligados ao mar e outros não. Todos eles merecem a nossa admiração e reconhecimento. Zé da Palacida pertence à classe dos ilustres da Nazaré. Ele fez a diferença.
Este mar que foi padrasto para tanta gente, permitiu também revelar a enorme grandeza de muitos nazarenos que aqui fizeram a sua vida e contra a sua fúria lutaram, para dar o pão aos seus filhos e netos. A minha homenagem a todos eles!
Zé da Palacida ficará sempre nos nossos corações. Paz à sua alma!
Cemitério da Nazaré, 31 de Março de 2018
José V C Matias
Em nome da Família Matias